sábado, 18 de janeiro de 2025

LUÍSA SUPICO - In Memoriam

 

Querida Luísa,

Há muito que não te dizemos nada em voz alta. Mas também sabemos que nada fará esconder o teu sorriso ateado de sinceridade.

A tua alegria de contágio e o teu pendor de frontalidade sempre se afirmaram, sempre nos estimularam. 

Continuar a aprender contigo é uma coragem que não refreamos.

Hoje é um dia maior no teu/nosso janeiro.

Vela por quem amas como sempre fizeste. 

Nós, vamos continuar a folhear as páginas dos dias - como quem reza - à sombra do teu riso. 


15 de janeiro de 2025

José Maria Laura



No dia 31 de agosto de 2019, a Marta escrevia: 

MENSAGEM DEDICADA A TODAS AS VÍTIMAS DO EFEITO SUPICO:

Olá a todos. Espero-vos a todos bem. 

Gostaria da atenção de todos, mas principalmente daqueles que ao longo de muitos anos, tantos como a minha existência, foram vítimas do Efeito Supico nas mesas das salas de aula. 

A vocês, que muitas vezes invejei por todo o tempo que ela vos dedicou, em preparação de aulas, correção de testes ou conversas de recreio. 

Hoje a minha mãe faleceu. Bateu-se estoicamente ao longo de uma guerra dura e da qual desde cedo se sabia quem sairia vencedor. 

Calma! Não se iludam, não venceu mas não se deu por vencida e saiu desta luta a rir-se na cara deste oponente. 

A todos que a quiserem homenagear comecem hoje a ler um livro. Um livro ou um poema, uma notícia, uma peça, uma BD... Mas leiam como confio que ela vos ensinou a ler. 

Este é o último post desta conta que em breve será encerrada. 

Obrigada a todos pelo papel que tiveram na construção do Ser da minha Mãe. 

Marta




Gratos por tão bela partilha.


ANA BACALHAU e CLÁUDIA PASCOAL - Imperial é Fino

 



«Ténis ou sapatilhas? Imperial ou fino? Ana Bacalhau e Cláudia Pascoal cantam as diferenças entre norte e sul

"Imperial é Fino" conta com letra de Capicua.»





Ah e quê?
Ah então?
Ah porquê?
Que algo se perde na nossa tradução?
Ah e quê?
Ah então?
Ah porquê?

Dizes que não tens qualquer sotaque, isto não é um ataque mas tens falta de noção
E depois dizes "para não ser de supresa eu tufono-te às dezóito pa marcar a runião"
Olha quem fala, tu dizes "à minha beira", com pronúncia da Ribeira
Quando estás "ao pé de mim"
Dizes pega em vez de toma, dizes bufa em vez de sopra
Olha a (i)Ana, gola (i)alta e coisa assim

Imperial é fino, ténis é sapatilha
Bica é cimbalino e "chicla" é pastilha
Aloquete é cadeado e capuz, carapuço
Estrugido é refogado, chapéu de chuva é chuço
Se trolha é pedreiro, bueiro é sargeta
Sertã é frigideira e cabide é cruzeta

Ah e quê?
Ah então?
Ah porquê?
Que algo se perde na nossa tradução?
Ah e quê?
Ah então?
Ah porquê?

Já tu dizes "são quaise treuze" e já ouvi várias vezes "tira o téni do sófá"
O lisboeta come letras, tira o U pra dizer pôco, diz "óviste é muita lôco", assim não dá!
Tretas, pra ti mãe tem cinco letras, dizer "cumo" é o cúmulo e tu sabes que assim é
Tu dizes testo e eu tampa, eu digo cocho e tu manco e quando dizes tótil eu bué

Imperial é fino, ténis é sapatilha
Bica é cimbalino e "chicla" é pastilha
Aloquete é cadeado e capuz, carapuço
Estrugido é refogado, chapéu de chuva é chuço
Se trolha é pedreiro, bueiro é sargeta
Sertã é frigideira e cabide é cruzeta

Contigo tão vira tom, contigo são vira som e depois bom vira "bão"
Para mim o V vira B, p'ra ti "Lesboa" é com E, oblá e então?
Ouve, não sou eu que falo torto, toda a gente me entende, não é meu o defeito
S'eu falo à Porto é meu direito e se o teu ouvido é mouco, o meu sotaque é perfeito

Se digo "fala bem", é pra tu seres meiguinha
Como eu sou também, no meu jeito alfacinha
E quando eu digo "bem" eu tou t'a dizer pra "bires"
Eu até te falo bem só é pena não me ouvires
E quando eu digo "bem" eu tou t'a dizer pra "bires"
Eu até te falo bem só é pena não me ouvires

Ah e quê?
Ah então?
Ah porquê?
Que algo se perde na nossa tradução?
Ah e quê?
Ah então?
Ah porquê?



Milhos

 



Claro que a palavra está associada a milho.

Grande parte das aldeias do norte eram muito pobres e totalmente dependentes do milho. O milho era o pão desde o acordar até ao deitar. Muito trabalhoso e exigente também em água de rega. Tudo resultava das encodeadas mãos camponesas. 

Até cerca de 1960, o grão era levado ao munho (moinho) às costas, à cabeça. (Às vezes bem mais que meia hora de caminho duro). Lá, no tremonhado, apanhava-se a farinha e metia-se em foles, sacos artesanais feitos de pele de cabra. Novo percurso até à cozinha onde, cuidadosamente, se elaborava a massa. O forno de lenha devolvia as broas da sobrevivência.

Voltemos ao munho. Quando era preciso, alteava-se um pouco a mó em relação ao pouso. O grão caía na mesma da calheira mas a rotação da mó já não expelia farinha: eram os milhos, o arroz dos pobres. Os milhos eram sempre longamente cozidos ao lume nos tradicionais potes de ferro com três pernas. Coziam só na água. Depois misturavam-se uns bocadinhos de carne de porco, quando havia. Era o arroz dos pobres. A quantidade que não se cozia era cuidadosamente guardada em sacos de tecido. 

Quase todas as tarefas, os cuidados no munho, na cozinha, na masseira e no forno dependiam das calosas, delicadas e dedicadas mãos femininas.

José Maria Silva



Os nossos milhos e tanto carinho resguardados neste saco de pano!
Dezembro de 2024