sábado, 8 de fevereiro de 2025
MARISA LIZ - Mudar a Canção
ROBERT DOISNEAU e JOSÉ DE ALMADA NEGREIROS
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025
terça-feira, 4 de fevereiro de 2025
MARIA TERESA HORTA (1937-2025)
MORRER DE AMOR
Morrer de amor
ao pé da tua boca
Desfalecer
à pele
do sorriso
Sufocar
de prazer
com o teu corpo
Trocar tudo por ti
se for preciso
RESISTÊNCIA
Ninguém me castra a poesia
se debruça e me põe vendas
censura aquilo que escrevo
nem me assombra os poemas
nem amordaça as palavras
na invenção de voar
por entre o sonho e as letras
Ninguém me cala na sombra
deitando fogo aos meus livros
me ameaça no medo
ou me destrói e algema
Ninguém me aquieta a escrita
na criação de si mesma
nem assassina a musa
que dentro de mim se inventa
que se faça
do corpo da mulher:
a praça — a casa
a taça
A ÁGUA
Com que se mata
a sede
do vício e da desgraça
Desassossego a paixão
espaço aberto nos meus braços
Insubordino o amor
desobedeço e desfaço
Desacerto o meu limite
incendeio o tempo todo
Vou traçando o feminino
tomo rasgo e desatino
Contrario o meu destino
digo oposto do que ouço
Evito o que me ensinaram
invento troco disponho
Recuso ser meu avesso
matando aquilo que sonho
Salto ao eixo da quimera
saio voando no gosto
Sou bruxa
Sou feiticeira
Sou poetisa e desato
Escrevo
e cuspo na fogueira
quinta-feira, 23 de janeiro de 2025
sábado, 18 de janeiro de 2025
LUÍSA SUPICO - In Memoriam
Querida Luísa,
Há muito que não te dizemos nada em voz alta. Mas também sabemos que nada fará esconder o teu sorriso ateado de sinceridade.
A tua alegria de contágio e o teu pendor de frontalidade sempre se afirmaram, sempre nos estimularam.
Continuar a aprender contigo é uma coragem que não refreamos.
Hoje é um dia maior no teu/nosso janeiro.
Vela por quem amas como sempre fizeste.
Nós, vamos continuar a folhear as páginas dos dias - como quem reza - à sombra do teu riso.
15 de janeiro de 2025
José Maria Laura
No dia 31 de agosto de 2019, a Marta escrevia:
MENSAGEM DEDICADA A TODAS AS VÍTIMAS DO EFEITO SUPICO:
Olá a todos. Espero-vos a todos bem.
Gostaria da atenção de todos, mas principalmente daqueles que ao longo de muitos anos, tantos como a minha existência, foram vítimas do Efeito Supico nas mesas das salas de aula.
A vocês, que muitas vezes invejei por todo o tempo que ela vos dedicou, em preparação de aulas, correção de testes ou conversas de recreio.
Hoje a minha mãe faleceu. Bateu-se estoicamente ao longo de uma guerra dura e da qual desde cedo se sabia quem sairia vencedor.
Calma! Não se iludam, não venceu mas não se deu por vencida e saiu desta luta a rir-se na cara deste oponente.
A todos que a quiserem homenagear comecem hoje a ler um livro. Um livro ou um poema, uma notícia, uma peça, uma BD... Mas leiam como confio que ela vos ensinou a ler.
Este é o último post desta conta que em breve será encerrada.
Obrigada a todos pelo papel que tiveram na construção do Ser da minha Mãe.
Marta
Gratos por tão bela partilha.
ANA BACALHAU e CLÁUDIA PASCOAL - Imperial é Fino
terça-feira, 7 de janeiro de 2025
Milhos
Claro que a palavra está associada a milho.
Grande parte das aldeias do norte eram muito pobres e totalmente dependentes do milho. O milho era o pão desde o acordar até ao deitar. Muito trabalhoso e exigente também em água de rega. Tudo resultava das encodeadas mãos camponesas.
Até cerca de 1960, o grão era levado ao munho (moinho) às costas, à cabeça. (Às vezes bem mais que meia hora de caminho duro). Lá, no tremonhado, apanhava-se a farinha e metia-se em foles, sacos artesanais feitos de pele de cabra. Novo percurso até à cozinha onde, cuidadosamente, se elaborava a massa. O forno de lenha devolvia as broas da sobrevivência.
Voltemos ao munho. Quando era preciso, alteava-se um pouco a mó em relação ao pouso. O grão caía na mesma da calheira mas a rotação da mó já não expelia farinha: eram os milhos, o arroz dos pobres. Os milhos eram sempre longamente cozidos ao lume nos tradicionais potes de ferro com três pernas. Coziam só na água. Depois misturavam-se uns bocadinhos de carne de porco, quando havia. Era o arroz dos pobres. A quantidade que não se cozia era cuidadosamente guardada em sacos de tecido.
Quase todas as tarefas, os cuidados no munho, na cozinha, na masseira e no forno dependiam das calosas, delicadas e dedicadas mãos femininas.
José Maria Silva