Fotografia de ALFREDO CUNHA - AQUI
TEMPO DE LUZES
É um tempo coado
de azevinho
com odores de doce
e de memória
O colo da mãe
em desalinho
a cor da ternura
na demora
É um tempo de luzes
e de linho
com sussurros
de cristal e de romã
Lonjura que nos traz
o som de um sino
onde o sonho se mistura
com a manhã
MORRER DE AMOR
Morrer de amor
ao pé da tua boca
Desfalecer
à pele
do sorriso
Sufocar
de prazer
com o teu corpo
Trocar tudo por ti
se for preciso
VOAMOS
Voamos a lua,
menstruadas
Os homens gritam:
- são as bruxas
As mulheres pensam:
- são os anjos
As crianças dizem:
- são as fadas
AMOR HUMANO
Eu te procurarei
por entre os astros
do meu sobressalto
e tudo parecerá perdido
à minha beira a querer iludir
séculos de engano
ano após ano
Mas nada será mais belo
que o nosso amor humano
RESISTÊNCIA
Ninguém me castra a poesia
se debruça e me põe vendas
censura aquilo que escrevo
nem me assombra os poemas
Ninguém me paga os versos
nem amordaça as palavras
na invenção de voar
por entre o sonho e as letras
nem amordaça as palavras
na invenção de voar
por entre o sonho e as letras
Ninguém me cala na sombra
deitando fogo aos meus livros
me ameaça no medo
ou me destrói e algema
Ninguém me aquieta a escrita
na criação de si mesma
nem assassina a musa
que dentro de mim se inventa
BASTA
Basta.
— digo —
que se faça
do corpo da mulher:
a praça — a casa
a taça
A ÁGUA
Com que se mata
a sede
do vício e da desgraça
que se faça
do corpo da mulher:
a praça — a casa
a taça
A ÁGUA
Com que se mata
a sede
do vício e da desgraça
FIM DE DIA DE UMA OPERÁRIA GRÁVIDA
Sente o peso do filho
na barriga
As costas leva curvadas
Nas pernas vê as varizes
Vê as mãos
que traz inchadas
(A casa! Chegar a casa!)
E vai andando apressada: empurrando o corpo
lento
devorado de cansaço
Com um desespero manso e firme a entrar-lhe
pelos braços
(A casa? Chegar a casa?)
E a cama desalinhada?
E a comida por fazer?
E a louça não lavada?
Na fábrica ficou a máquina
na oficina o ruído
a obra já acabada
Mas ainda falta a casa
Com a sua vida a cumprir: .
varrer
panelas
jantar
E a roupa do marido
toda ainda por lavar
(A casa... Chegar a casa…)
A que horas vai poder
deitar-se para dormir?
Num sono de se esquecer…
A que horas vai poder?
Sente o peso do filho
na barriga
As costas leva curvadas
Nas pernas vê as varizes
Vê as mãos
que traz inchadas
(A casa! Chegar a casa!)
E vai andando apressada: empurrando o corpo
lento
devorado de cansaço
Com um desespero manso e firme a entrar-lhe
pelos braços
(A casa? Chegar a casa?)
E a cama desalinhada?
E a comida por fazer?
E a louça não lavada?
Na fábrica ficou a máquina
na oficina o ruído
a obra já acabada
Mas ainda falta a casa
Com a sua vida a cumprir: .
varrer
panelas
jantar
E a roupa do marido
toda ainda por lavar
(A casa... Chegar a casa…)
A que horas vai poder
deitar-se para dormir?
Num sono de se esquecer…
A que horas vai poder?
ENQUANTO CALAS
Enquanto calas
dobas o medo
que te cresce na fala
E a solidão bordas
a ponto de silêncio
PONTO DE HONRA
Desassossego a paixão
espaço aberto nos meus braços
Insubordino o amor
desobedeço e desfaço
Desassossego a paixão
espaço aberto nos meus braços
Insubordino o amor
desobedeço e desfaço
Desacerto o meu limite
incendeio o tempo todo
Vou traçando o feminino
tomo rasgo e desatino
Contrario o meu destino
digo oposto do que ouço
Evito o que me ensinaram
invento troco disponho
Recuso ser meu avesso
matando aquilo que sonho
Salto ao eixo da quimera
saio voando no gosto
Sou bruxa
Sou feiticeira
Sou poetisa e desato
Escrevo
e cuspo na fogueira
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