sexta-feira, 27 de junho de 2025

Junho de 2025 - Reunião Geral de Professores

Preparação da época de exames - 1ª e 2ª fase

Com a Ferreira em obras, tudo acontece na António Sérgio...



Dá-me um sorriso a brincar,

Dá-me um sorriso a brincar,
Dá-me uma palavra a rir,
Eu me tenho por feliz
Só de te ver e te ouvir."

FERNANDO PESSOA

























Fotografias (quase todas!😉) - Maria Laura Matos

Gaiolas ou asas?

Os pensamentos chegam-me de um modo inesperado, sob a forma de aforismos. [...] Os aforismos são visões: fazem ver, sem explicar. Pois ontem, de repente, este aforismo atacou-me: Há escolas que são gaiolas. Há escolas que são asas.

Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controlo. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados têm sempre um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o voo. Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são os pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.

[...] 

As escolas serão gaiolas? Vão falar-me da necessidade das escolas dizendo que os adolescentes precisam de ser educados para melhorarem de vida. De acordo. É preciso que os adolescentes, que todos tenham uma boa educação. Uma boa educação abre os caminhos de uma vida melhor. Mas eu pergunto: as nossas escolas estão a dar uma boa educação? O que é uma boa educação? O que os burocratas pressupõem sem pensar é que os alunos ficam com uma boa educação se aprendem os conteúdos dos programas oficiais. E, para testar a qualidade da educação, criam mecanismos, provas e avaliações, acrescidos dos novos exames elaborados pelo Ministério da Educação.

Mas será mesmo? Será que a aprendizagem dos programas oficiais se identifica com o ideal de uma boa educação? [...] 

 O sujeito da educação é o corpo, porque é nele que está a vida. É o corpo que quer aprender para poder viver. É ele que dá as ordens. A inteligência é um instrumento do corpo cuja função é ajudá-lo a viver. Nietzsche dizia que a inteligência era a ferramenta e o brinquedo do corpo, Nisso se resume o programa educacional do corpo: aprender ferramentas, aprender brinquedos. As ferramentas são conhecimentos que nos permitem resolver os problemas vitais do dia-a-dia. Os brinquedos são todas aquelas coisas que, não tendo nenhuma utilidade como ferramentas, dão prazer e alegria à alma.

Nessas duas palavras, ferramentas e brinquedos, está o resumo da educação. Ferramentas e brinquedos não são gaiolas. São asas. As ferramentas permitem-me voar pelos caminhos do mundo. Os brinquedos permitem-me voar pelos caminhos da alma. Quem está a aprender ferramentas e brinquedos está a aprender liberdade, não fica violento. Fica alegre, ao ver as asas crescer… Assim todo o professor, ao ensinar, deveria perguntar-se: Isso que vou ensinar, é ferramenta? É brinquedo? Se não for, é melhor pôr de parte. As estatísticas oficiais anunciam o aumento das escolas e o aumento dos alunos matriculados. Esses dados não me dizem nada. Não me dizem se as escolas são gaiolas ou asas.

Mas eu sei que há professores que amam o voo dos seus alunos.

Há esperança…


RUBEM ALVES

AQUI



quinta-feira, 26 de junho de 2025

As minhas últimas aulas!

 

« Fais de ta vie un rêve, et d'un rêve, une réalité »

Antoine de Saint-Exupéry — Le Petit Prince


8.º B

Na nossa última aula de Direção de Turma
num agradável convívio com a psicóloga Sandra!

E na última aula de Francês deste ano letivo...



 



Pétalas de carinho a caminharem 
de uma sala de aula para uma sala tout court ...




As vossas palavras delicadas e ternas 
continuarão a florir na minha memória, num abraço sem fim!




Chers / Chères élèves,
merci infiniment !


Je vous souhaite tout le bonheur du monde !
Maria Laura Matos




terça-feira, 24 de junho de 2025

CLUBE DE LEITURA DA ESCOLA SECUNDÁRIA FERREIRA DIAS

Venham (re)descobrir este valioso espólio!

José Maria Laura







O blogue do Clube de Leitura da Escola Secundária Ferreira Dias reserva, no seu arquivo, um longo espólio de textos redigidos pelos alunos (de diferentes tipologias e géneros literários), alguns inspirados no estudo das obras do programa da disciplina de Português, numa demonstração de possíveis abordagens criativas das obras ditas de leitura obrigatória.

A História deste blogue, iniciada em 2016, perfaz, agora, um percurso de 9 anos, merecendo que lhe seja dada uma maior projeção e visibilidade, num sentido de renovação. 

Desafiamos, então, os leitores a envolverem-se na descoberta destes textos, dando o devido reconhecimento aos génios criativos da nossa escola.

Espera-se, assim, espalhar o gosto pela escrita, dando-se continuidade à manifestação e descoberta de talentos que a escola se propõe cultivar.

JUDITE MORAIS




Uma publicação-tributo
de JUDITE MORAIS:

MEMÓRIAS DE LEITURA

          Trazendo à superfície as memórias das minhas primeiras experiências de leitura, relembro os seus contornos particulares, desenhados por contingências económicas, geográficas e sociais.

          Cresci no espaço livre da aldeia, no qual não havia limites para as tropelias e correrias da infância e onde a imaginação não encontrava barreiras para as suas deambulações, pulando constantemente as fronteiras do tempo e do espaço, fora das quais as aventuras sonhadas pareciam ganhar a possibilidade de se tornarem realizadas.

          No contexto tão apertado da aldeia, mas tão alargado pelas múltiplas vias da fantasia, apresentava-se como um grande acontecimento a passagem de uma biblioteca itinerante, que pertencia à Gulbenkian. A vinda periódica do mágico veículo de caixa fechada (recheada com o tesouro do seu espólio livresco) era aguardada com as palpitações que sempre caracterizam a expectativa dos encontros longamente acalentados! 









segunda-feira, 16 de junho de 2025

TERESA RITA LOPES (1937-2025)

 




Amo Tracinho Te

Quando pela primeira vez escrevi amote

fui repreendida

pela gramática

Não quis saber

Tinha-te mais comigo

Assim numa palavra só

Quando pela primeira vez soletrei

a-mo-te tive medo e com pressa e gula

te comi inteiro te reuni em mim

Quando pela primeira vez

nos começamos a separar respeitei a ortografia e sem dar

por isso separei-te de mim

amo tracinho te

Quando

pela primeira vez nos reunimos soletrei melancolicamente

a-ma-me como quem esbagulha uma romã

Quando

pela última vez me disseste amo tracinho te

tudo

estava certo e solitário

eu separada de ti por um pântano

de ninguém

tu à distância sem mim sem barco

e sem vontade

Esbracejei não me quis conformar

Acenei-te gritei-te de longe Amasme?

numa palavra só

de braços estendidos a lutar contra os ventos separadores

da ortografia e do alto mar

Respondeste gritaste

claro que te amo

te

amo

te

amo

escandiam os ventos e o eco

em duas palavras

separadas

Então entre mim e ti o pântano cresceu

Depois secou

Depois a crosta terrestre desfez-se e refez-se

E houve

Novos mares e continentes e tudo ficou provisoriamente

adulto e definitivo

reconciliado com a geografia e a gramática

eu

tu

solidamente

solidariamente sós

TERESA RITA LOPES


👉A Vida Breve - Programa diário de poesia dita pelos seus autores

Um programa de Luís Caetano - Antena 2

AQUI


A Mãe

A Mãe

é como a água

é como o pão


Quando há

parece obrigação

nem se agradece


Só agora se solta minha prece

depois da refeição

apenas evocada


Quatro auto-retratos

2

Porque será que meus olhos tanto necessitam

de ver mar ao longe?

                             Ou pelo menos a água

de um rio

             para aí cheirar a sua raiz

Se calhar foi por tanto apetecer o azul

da água ao longe

                           que meus olhos são claros

e por tanto amar o mar

                           que meus desgostos

se tornaram destemidos e salgados

                                                      e têm

o voo a pique das gaivotas

                                         e o grito ácido

dos pássaros marinhos



Dia a dia


Dia

a

dia

noite

a

noite

pedra

a

pedra

palha

a

palha

a

tronco

a

tronco

cuspo

a

cuspo

gesto

a

gesto

passo

a

passo

flor

a

flor

se faz um ninho

um caminho




Quando te tinha Mãe


Quando te tinha

Mãe

Não sabia

Havia

De te perder

Nem pensava

Sequer

Que podia

Não te ter

Não parava

Para te saborear

Para te saber

Tão precisa

À minha vida

Tão preciosa

Não gozava

A alegria

De te saber

Mãe


Viver em verso

É verdade, Antónia: de tudo faço versos:

é só parar, respirar fundo

as humildes coisas em redor

e deixar que eles me poisem nos ombros.

Desde que gostosamente me recolhi

no claustro dos meus dias

sou como as minhas plantas:

preciso de estar sozinha no meu vaso.

Que as abelhas se encarreguem de as polinizar

e a mim de me fazer

viver em verso.


Dia dos fiéis defuntos


Em menina neste dia dos Fiéis Defuntos

ia com a Mãe e a Tia ao cemitério.

saudar os nossos mortos.

Andávamos de campa em campa

como de casa em casa

a florir-lhes os retratos.

Por mim achava que eles não estavam lá

- e ainda acho.

Mas o cemitério era concorrido como uma feira

e eu gostava de olhar em redor.

Felizmente que os portugueses não fazem como os chineses

que comem ali mesmo com os seus mortos.

Mas no regresso ah sim! compensava-me de tanto luto

empanturrando-me de figos cheios com amêndoas e canela

recém-saídos do forno!

Espero que ainda persista o hábito.

Esse o delicioso paladar que me ficou na lembrança

misturado com o cheiro acre dos crisântemos.

Fecho os olhos, aspiro, saboreio

e assim cumpro hoje o ritual actual

que não inclui a ida ao cemitério

onde sei que os meus mortos não estão:

Tenho-os aqui comigo!


TERESA RITA LOPES




👉TERESA RITA LOPES (1937-2025)

👉TERESA RITA LOPES – UMA PAISAGEM DE MIM



Uma singela homenagem à  minha professora de Literatura Portuguesa na Université de la Sorbonne Nouvelle-Paris III (Censier), no início da década de oitenta, 

Teresa Rita Lopes.


CERTIFICAT D'ÉTUDES SUPÉRIEURES DE MAITRISE
1980-1981
MÉTHODES DE RECHERCHE EN LITTÉRATURE PORTUGAISE
Les tendances de la prose portugaise contemporaine du "Modernismo" à nos jours
par Madame Le Professeur RITA LOPES


Desse tempo,
guardo o olhar azul que perscrutava a nossa sensibilidade e nos levava até mares longínquos!

Guardo a paixão das suas palavras, envoltas num discurso tão distante das apresentações cartesianas de outros professores.

Guardo a voz eloquente e calorosa que nos deu a conhecer tantos Pessoas e tantas pessoas! Versos e poetas reencontrados quando ouvíamos embevecidos as suas leituras...

Guardo a sua poesia descoberta mais tarde e que ecoa dolorosamente...

"Fecho os olhos, aspiro, saboreio
e assim cumpro hoje o ritual actual
que não inclui a ida ao cemitério
onde sei que os meus mortos não estão:
Tenho-os aqui comigo!"

15 de junho
Maria Laura