Ferreira Dias e Noites
O próprio do ser humano é pensar. Pensa, pois, de dia e de noite. Neste espaço - às vezes nulo - entre dias e noites surgiu a possibilidade de um estendal de documentos. Primeiro, pensados para possível utilização em atividades escolares. Depois, expostos à sensibilidade de qualquer um. Se não vieres de dia, se não vieres de noite, podes vir ao lusco-fusco que é quando o texto, a imagem, o som e o silêncio sustentam a cor do teu olhar.
José Maria Laura
terça-feira, 7 de janeiro de 2025
Milhos
Claro que a palavra está associada a milho.
Grande parte das aldeias do norte eram muito pobres e totalmente dependentes do milho. O milho era o pão desde o acordar até ao deitar. Muito trabalhoso e exigente também em água de rega. Tudo resultava das encodeadas mãos camponesas.
Até cerca de 1960, o grão era levado ao munho (moinho) às costas, à cabeça. (Às vezes bem mais que meia hora de caminho duro). Lá, no tremonhado, apanhava-se a farinha e metia-se em foles, sacos artesanais feitos de pele de cabra. Novo percurso até à cozinha onde, cuidadosamente, se elaborava a massa. O forno de lenha devolvia as broas da sobrevivência.
Voltemos ao munho. Quando era preciso, alteava-se um pouco a mó em relação ao pouso. O grão caía na mesma da calheira mas a rotação da mó já não expelia farinha: eram os milhos, o arroz dos pobres. Os milhos eram sempre longamente cozidos ao lume nos tradicionais potes de ferro com três pernas. Coziam só na água. Depois misturavam-se uns bocadinhos de carne de porco, quando havia. Era o arroz dos pobres. A quantidade que não se cozia era cuidadosamente guardada em sacos de tecido.
Quase todas as tarefas, os cuidados no munho, na cozinha, na masseira e no forno dependiam das calosas, delicadas e dedicadas mãos femininas.
José Maria Silva