O próprio do ser humano é pensar. Pensa, pois, de dia e de noite. Neste espaço - às vezes nulo - entre dias e noites surgiu a possibilidade de um estendal de documentos. Primeiro, pensados para possível utilização em atividades escolares. Depois, expostos à sensibilidade de qualquer um. Se não vieres de dia, se não vieres de noite, podes vir ao lusco-fusco que é quando o texto, a imagem, o som e o silêncio sustentam a cor do teu olhar.
José Maria Laura
quinta-feira, 23 de janeiro de 2025
sábado, 18 de janeiro de 2025
LUÍSA SUPICO - In Memoriam
Querida Luísa,
Há muito que não te dizemos nada em voz alta. Mas também sabemos que nada fará esconder o teu sorriso ateado de sinceridade.
A tua alegria de contágio e o teu pendor de frontalidade sempre se afirmaram, sempre nos estimularam.
Continuar a aprender contigo é uma coragem que não refreamos.
Hoje é um dia maior no teu/nosso janeiro.
Vela por quem amas como sempre fizeste.
Nós, vamos continuar a folhear as páginas dos dias - como quem reza - à sombra do teu riso.
15 de janeiro de 2025
José Maria Laura
No dia 31 de agosto de 2019, a Marta escrevia:
MENSAGEM DEDICADA A TODAS AS VÍTIMAS DO EFEITO SUPICO:
Olá a todos. Espero-vos a todos bem.
Gostaria da atenção de todos, mas principalmente daqueles que ao longo de muitos anos, tantos como a minha existência, foram vítimas do Efeito Supico nas mesas das salas de aula.
A vocês, que muitas vezes invejei por todo o tempo que ela vos dedicou, em preparação de aulas, correção de testes ou conversas de recreio.
Hoje a minha mãe faleceu. Bateu-se estoicamente ao longo de uma guerra dura e da qual desde cedo se sabia quem sairia vencedor.
Calma! Não se iludam, não venceu mas não se deu por vencida e saiu desta luta a rir-se na cara deste oponente.
A todos que a quiserem homenagear comecem hoje a ler um livro. Um livro ou um poema, uma notícia, uma peça, uma BD... Mas leiam como confio que ela vos ensinou a ler.
Este é o último post desta conta que em breve será encerrada.
Obrigada a todos pelo papel que tiveram na construção do Ser da minha Mãe.
Marta
Gratos por tão bela partilha.
ANA BACALHAU e CLÁUDIA PASCOAL - Imperial é Fino
terça-feira, 7 de janeiro de 2025
Milhos
Claro que a palavra está associada a milho.
Grande parte das aldeias do norte eram muito pobres e totalmente dependentes do milho. O milho era o pão desde o acordar até ao deitar. Muito trabalhoso e exigente também em água de rega. Tudo resultava das encodeadas mãos camponesas.
Até cerca de 1960, o grão era levado ao munho (moinho) às costas, à cabeça. (Às vezes bem mais que meia hora de caminho duro). Lá, no tremonhado, apanhava-se a farinha e metia-se em foles, sacos artesanais feitos de pele de cabra. Novo percurso até à cozinha onde, cuidadosamente, se elaborava a massa. O forno de lenha devolvia as broas da sobrevivência.
Voltemos ao munho. Quando era preciso, alteava-se um pouco a mó em relação ao pouso. O grão caía na mesma da calheira mas a rotação da mó já não expelia farinha: eram os milhos, o arroz dos pobres. Os milhos eram sempre longamente cozidos ao lume nos tradicionais potes de ferro com três pernas. Coziam só na água. Depois misturavam-se uns bocadinhos de carne de porco, quando havia. Era o arroz dos pobres. A quantidade que não se cozia era cuidadosamente guardada em sacos de tecido.
Quase todas as tarefas, os cuidados no munho, na cozinha, na masseira e no forno dependiam das calosas, delicadas e dedicadas mãos femininas.
José Maria Silva