NATAL, E NÃO DEZEMBRO
Entremos,
apressados, friorentos,
numa gruta,
no bojo de um navio,
num
presépio, num prédio, num presídio,
no prédio que amanhã for demolido...
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos,
inseguros, mas entremos.
Entremos, e
depressa, em qualquer sítio,
porque esta
noite chama-se Dezembro,
porque
sofremos, porque temos frio.
Entremos,
dois a dois : somos duzentos,
duzentos
mil, doze milhões de nada.
Procuremos o
rastro de uma casa,
a cave, a
gruta, o sulco de uma nave...
Entremos,
despojados, mas entremos.
Das mãos
dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja
Natal e não Dezembro,
talvez
universal a consoada.
David Mourão-Ferreira,
Cancioneiro de Natal, Lisboa:
1986, Edições Rolim
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