domingo, 24 de novembro de 2013

ANTÓNIO PEREIRA - PROVA DE AVALIAÇÃO DOS «PROFES» ...

Sabemos que ser professor é, como deve ser, assumir um estatuto calibrado de rigores e de sensibilidades. Isso nunca exclui as falhas nem os momentos de fraqueza. E isso jamais se apura com exames descabidos, impróprios e enxaguados com a sabonária do momento: ó freguês, é a 20, a 20 € a peça!

Já aprendemos há muito que o bom exemplo, por cá, não vem de cima. Saudamos esta busca organizada de António Pereira que decidiu peneirar alguns exemplos brilhantes de “rigor” que transbordam do MEC. É confrangedor observar como os arautos do rigor para os outros são incapazes de assimilar aquilo que tanto apregoam. Isto ressoa muito para além da fronteira da ignorância. E como dizia o Ti António Alfaiate, não escolarizado, quem fraco pano pardo tem, fraca capa parda faz. Também sabemos bem que para ser ministro, secretário ou qualquer outro apêndice governativo, não é preciso mais, não há “exames”, basta um “convitinho”.  
José Maria Laura

AQUI: http://acordo-ortografico.blogspot.pt/

Prova de Avaliação dos "Profes": radiografia seletiva...

Imagem encontrada AQUI.

A leitura do guião da Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades desassossegou-me o espírito por várias razões.
1. Em relação ao conteúdo, não passa de uma açorda espapaçada, uma mistura de itens tipo testes PISA (aplicados a miúdos de 15 anos) com a secção lúdica dos jornais (quebra-cabeças, enigmas, etc.).
2. Quanto ao critérios de classificação, escolho três extratos do guião.
2.1. "Todas as ocorrências de um mesmo erro estão sujeitas a desvalorização."
O bom senso e as técnicas de correção aconselham precisamente o contrário: erros repetidos são contados como uma só ocorrência. Instintivamente, veio-me à memória uma passagem do "Doente Imaginário", de Molière: "Ignorantus, ignoranta, Ignorantum."
2.2. "São classificadas com zero pontos as respostas que não atinjam o nível de desempenho mais baixo ou quando se verifique uma das seguintes condições: (…)
–– mais de seis erros de sintaxe;
–– mais de dez erros inequívocos de pontuação;
–– mais de dez erros de ortografia ou de morfologia."
IMPRESSIONANTE! É caso para dizer: Que se lixe o conteúdo!
Considerando a subjetividade que lhe está subjacente, o que é um erro inequívoco de pontuação?
Respondendo a esta visão “a retalho” da produção escrita, cito Carlos Rocha, consultor do Ciberdúvidas: “Vemos, assim, que as fronteiras entre morfologia, sintaxe e semântica não são estanques. Pelo contrário, trata-se de domínios que se sobrepõem de tal maneira, que a descrição linguística e gramatical só os separa por imperativos metodológicos.
Espera-se que todos os classificadores saibam contar até dez…
3. “só é considerada correta a grafia que segue o que se encontra previsto no Acordo Ortográfico de 1990, atualmente em vigor.
Não é este o critério aplicado nos exames nacionais nem a Vasco da Graça Moura ou ao juiz Rui Teixeira, estando o AO também em vigor na administração pública (desde janeiro de 2012). Mais uma vez, só há voz grossa para os professores…

Face ao “rigor”, resolvi dar uma espreitadela ao portal do governo e à DGIDC para ver como estavam a ser tratados a língua portuguesa em geral e o AO em particular. Considerando que o exemplo deve vir de cima, esperava uma aplicação irrepreensível das regras do AO90 e o respeito absoluto pela sintaxe, pontuação, ortografia e morfologia.

Aplicando os critérios a que os professores vão estar sujeitos, bastaram 20 minutos para ter assunto para este artigo.
1. Um tiro no AO:
21 de junho de 2011”, mas, duas linhas depois: “26 de Outubro de 2012”.
2. Erro “inequívoco” de pontuação.
Estes recursos cobrem as mais variadas áreas (...), e encontram-se à disposição para utilização de todas as escolas e professores, desde a educação pré escolar até ao ensino secundário.
Diz Edite Prada, no Ciberdúvidas: “Na copulativa, por exemplo, se o sujeito das orações for o mesmo, não é permitida a colocação de vírgula.” Qual é o sujeito? "Estes recursos"...
3. Este até dói…
É químico, e foi professor catedrático da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto
O sujeito de ambas as orações é o Secretário de Estado do Ensino Superior…
4. E vão quatro!
era membro do Conselho Nacional de Educação e do Conselho de Ensino Superior Militar, e coordenador do projeto Casa das Ciências, da Fundação Calouste Gulbenkian.
E o sujeito é… o Secretário de Estado do Ensino Superior!
5. Uma mão cheia!
Escreveu diversos artigos sobre ensino superior, e foi promotor de Bolonha por nomeação ministerial em 2004-2005.
Não preciso de dizer quem é o sujeito, pois não?
6. Meia dúzia!
É professor do Ensino Básico desde 1980, e está integrado no quadro do Agrupamento de Escolas Manoel de Oliveira, no Porto, desde 2006.
O sujeito mudou, mas continua a ser só um nas duas orações: o Secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário…
7. Mais um tiro no AO!
pessoal não-docente
Ao contrário do que acontecia antes, devem ser escritas sem hífen sequências constituídas pelos advérbios “não” ou “quase” e outra palavra: (não agressão, não alinhado, não fumador, quase dito, etc.).
8. Mais um…
para além de dar a conhecer materiais e projectos que possam ser inspiradores e úteis.
O “c” escapou aos cortes...
9. Nem o AO de 1945 escapa…
bilinguísmo e mobilidade na Europa
Não há nem havia acento…
10. A concluir, outro tiro no AO45...
palavras chave, título, autor, assunto, etc.
Havia e continua a haver hífen, exprimindo a unidade semântica que liga as duas palavras.

Classificação final: ze-ro!

Nota final: Um abraço solidário para todos os que foram enfiados neste barco. Pode ser que a prova caia… Basta não haver vigilantes nem classificadores. Por um lado, o ECD não contempla estas novas “funções” e, por outro, é sempre possível aderir à greve convocada para o dia da prova.

Extratos retirados de:

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