FERNANDO CARITA na Ferreira Dias

Ana Luz, colega 

Anna Afonso, aluna 

Duas vozes amigas a recordar o Fernando.

ANA LUZ

O intervalo da manhã
O ritual do café na sala de professores
A conversa com os colegas
A opinião sempre sensível, sábia e inteligente

Que falta faz o Fernando!

Fotografia de Ana Luz

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ANNA AFONSO

"What might have been and what has been

Point to one end, which is always present.

Footfalls echo in the memory

Down the passage which we did not take

Towards the door we never opened

Into the rose-garden. My words echo

Thus, in your mind."

T.S.Eliot

Tudo o que querias ser era um poema, e assim te tornaste nesse infinito azul onde a Palavra é mais vasta que a terra, e onde o mar se confunde com o céu.

E a cada verso nos abandonamos a ouvir o inesperado das tuas palavras que nos penetra o ser, revelando-nos, despertando-nos, desenterrando-nos e descobrindo-nos onde nunca pensámos nos encontrar, com esse Outro que somos nós. Para, finalmente, nos permitirmos dispersar no Todo, universal.

Pois que a verdade oculta do mundo está dentro de cada um de nós. Essa centelha que nos habita nos lugares mais desabitados do ser, no silêncio mais profundo que se sente na alma.

E muito temos procurado no céu uma razão para viver, mas foi aqui que encontrámos a beleza e a paixão de viver - nesse lugar já repleto de poesia.

Naquele momento, naquele instante, ali, naquele poema, já não somos nós. Somos o vazio, o som, o silêncio, o deslumbramento, o desconhecido, o espaço e o tempo unidos. Nós Somos!

Uma parte de nós em ti, mas em nós és já o Todo, por inteiro. Memória eterna que nenhum tempo, nenhuma fugacidade poderá apagar, nem nenhuma onda poderá afogar, e em toda a parte te encontramos, em cada instante, em cada textura invisível, em cada salto, em cada esquina. Principalmente na noite, naquela mais escura, onde tudo é Uno como uma morte que chega para dar vida. Liberdade plena!

E nesse crepúsculo nos deixamos levar enquanto do outro lado do poema nos esperas, contemplando a aurora tomando o nosso corpo, já desfalecido, e partimos caminhando rumo a ti.

E a cada dia aguardamos essa hora. A hora do tempo dividido! Hoje e sempre! Esse crepúsculo… esse Crepúsculo da Aurora.