sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Ferreira Dias e Noites e JUDITE MORAIS - Faz hoje anos...

Para a Maria do Carmo Simões... Esta canção de embalar...
Com um cravo na memória ! 
José Maria Laura 


maria laura matos de Slidely by Slidely Slideshow
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FAZ HOJE ANOS…
Mais um ano letivo se passou (sorrateiramente...), já lançámos a Rentrée e estamos no caminho de volta à consumação de outro ano, numa sucessão imparável que nos faz vítimas da erosão do tempo, mas também nos traça o perfil de heróis que vão lutando contra o desgaste da passagem dos dias.
Mais um ano se passou e, no contínuo do tempo, vamos relembrando os rostos de tantos desses heróis que fizeram a narrativa da nossa escola, numa linha de continuidade na qual, também nós, nos vamos assumindo como personagens de novos enredos.
Estamos a chegar ao fim de setembro, passando as folhas de um calendário que, desde o início do mês, já nos enredou no cumprimento de tantos compromissos, responsabilidades e obrigações. No desenrolar dos dias, fixamos, agora, a data de 29, marcada pela partida da colega Carmo Simões, que, nesse ano, tanto revelou o desejo de se envolver no entusiasmo das tarefas de professora com as quais pontuava o decurso da sua existência.
Somos impelidos pela marcha do tempo, num constante renovar de ciclos que nos traz de volta aos encantos de um sucessivo retorno que desejamos prolongar persistentemente, indefinidamente… 
Ficamos presos ao fascínio dos dias, que, agora, nos trazem de volta ao outono, com a consciência de que, depois, há de vir o natal, abrindo caminho para a páscoa e o carnaval e novamente para um outro verão, com a recompensa das férias e a sua promessa de um reconquistado sentido de despreocupação.
O tempo não perdoa e somos de tal modo arrastados no redemoinho da sua passagem que nos esquecemos de dar sentido a algumas ruturas que foram manchando o nosso calendário, marcadas pela despedida de colegas que se foram retirando para os seus espaços de eterno repouso das preocupações com que se preenche a terrena existência.
Contudo, sobretudo nestes inícios, recordamos estes nossos companheiros de viagem, relembrando a sua energia, o seu sentido de humor, a perspicácia, a agudeza de espírito, o profissionalismo, os risos e as conversas que traziam e com que enchiam os dias e, assim, fazemos, hoje, o registo destes rostos com os quais convivemos e privámos durante anos, tecendo uma história que perdurará, resistindo ao tempo, porque, como diz o escritor José Luís Peixoto, “na hora de pôr a mesa, / seremos sempre cinco / enquanto um de nós estiver vivo, seremos / sempre cinco. “
Assumindo-nos como uma comunidade que se rege pela conservação dos afetos, propomos uma viagem pela memória de anos passados, recriando gestos e histórias contadas pelas nossas fotografias.
O permanente regresso traz-nos de volta à consciência da importância de preservarmos a amizade, com ela erguendo barreiras ao maroto do tempo, esse eterno decompositor, que se constitui nosso opositor, e construindo os prazeres que fazem as delícias da nossa passagem, porque, como diz algures um autor, “a vida não é mais do que uma viagem de comboio”.

Também o poema de Fernando Pessoa “Um dia a maioria de nós irá separar-se” nos alerta para os perigos decorrentes da sujeição da amizade aos descuidos da negligência operada pelas pressões do tempo.

Um dia a maioria de nós irá separar-se
Sentiremos saudades de todas as conversas deitadas fora, das descobertas
que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos
que partilhamos.
Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia,
das vésperas dos finais de semana, dos finais de ano,
enfim… do companheirismo vivido.
Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.
Hoje não tenho mais tanta certeza disso.
Em breve cada um vai para seu lado, seja pelo destino ou por algum
desentendimento, segue a sua vida.
Talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe…nas cartas que trocaremos.
Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices…
Aí, os dias vão passar, meses…anos… até este contacto se tornar cada vez mais raro.
Vamo-nos perder no tempo….
Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e perguntarão:
- “Quem são aquelas pessoas?”
Diremos…que eram nossos amigos e…… isso vai doer tanto!
“Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons anos da minha vida!”
A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente……
Quando o nosso grupo estiver incompleto…
reunir-nos-emos para um último adeus de um amigo.
E, entre lágrimas, abraçar-nos-emos.
Então faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante.
Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vida, isolada do passado.
E perder-nos-emos no tempo…
Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades….
Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos
os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!

JUDITE MORAIS

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