O próprio do ser humano é pensar. Pensa, pois, de dia e de noite. Neste espaço - às vezes nulo - entre dias e noites surgiu a possibilidade de um estendal de documentos. Primeiro, pensados para possível utilização em atividades escolares. Depois, expostos à sensibilidade de qualquer um. Se não vieres de dia, se não vieres de noite, podes vir ao lusco-fusco que é quando o texto, a imagem, o som e o silêncio sustentam a cor do teu olhar.
Para o meu pai, a chegada em 1960.
Para mim, a partida, em 1983.
Entre estas duas datas, vivências e viagens entre as duas margens das nossas vidas, passando tantas vezes por esta estação mítica …
No cais, persiste a sombra carinhosa das recordações: lembro as malas atulhadas, os garrafões de vinho, os sacos de couves… e sobretudo, a alegria camponesa dos meus avós encasacados, ao reencontrarem filhos e netos para festejar o Natal por terras de França…
A chegada. A partida. Tempos e Mudanças.
No cais, persiste a sombra entristecida das recordações: lembro as malhas atulhadas, as minhas lágrimas, o abraço da minha Amiga Fernanda ... e sobretudo, a dor despida da minha mãe ao ver-me partir para uma vida nova por terras de Portugal…
Gare d’Austerlitz, Migrações...
«Gare d’Austerlitz», Banda Sonora das nossas vidas...
Não tenho palavras, José Mário Branco, para agradecer a Emoção que eternizou nesta melodia de ruídos e harmonia, lembrando tantas Memórias aos solavancos, amontoadas em carruagens embaciadas de saudade…
… Apenas um abraço inabalável, entre duas estações …
Este ano morreram 32 pessoas em contexto de violência doméstica: 23 mulheres, oito homens e 1 criança. Todas conheciam os homicidas. Estavam ou estiveram com eles unidos por laços de intimidade ou família. Mas a violência quebra tudo, desamarra. Não há sentimentos nobres num crime. Conheça a história de cada uma das vítimas
«Em 2018, ano em que José Mário Branco assinalou meio século de carreira, o Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical da Universidade Nova de Lisboa lançou um arquivo digital com mais de mil documentos, entre partituras, cartas, letras de canções, alinhamentos de espetáculos, fotografias, maquetas ou anotações sobre peças de teatro.»
«Há precisamente quatro anos, Paris mergulhava numa noite de pânico extremo, com o maior ataque em solo francês depois da Segunda Guerra mundial. O correspondente do Expresso estava perto dos locais dos principais ataques terroristas que fizeram 131 mortos e 400 feridos e recorda aqui o horror que então atingiu a cidade»
No São Jorge, em Lisboa, no dia 31 de Outubro, na Sala Manoel de Oliveira, assistimos a 6 curtas metragens, com produção associada a Espanha, Israel, Itália, Líbano, Portugal e Tunísia.
No âmbito das disciplinas de História e de Francês, participámos neste evento, dirigido a jovens do Secundário.
1. LISI PRADA - Almost Invisible (Two poems to Syria)
Espanha | experimental| 2018 | 10’
«Uma vergonhosa linha vermelha no Mediterrâneo. Dois poemas estrangeiros. Três sentimentos profundos: impotência, cólera e tristeza. Tantas memórias destruídas e apenas um desejo.»
2. PRAGUE BENBENISTY - Deserter
Israel | ficção| 2017 | 18’
«Quando a sua irmã mais velha, Ossi, desaparece, Margalit deserta do exército para a procurar. Margalit foge, seguindo o rasto de Ossi, o que a leva a um apartamento em Tel Aviv. Parte uma janela e entra. Após uma visita surpresa, Margalit compreende que a memória que ela procurava já não existe.»
3. VANESSA CHAWI - Overcast
Líbano | ficção| 2019 | 20’
«Um ano após uma espessa camada de misteriosas nuvens negras ter escondido o sol, o único desejo de Elio é fugir do seu mundo e da sua vida. Contudo, após um par de acontecimentos peculiares, ele encontra maneira de ver de novo a luz e escapar a este mundo, embora a um preço alto.»
4. GAIA VIANELLO - Zulu Rema has learned to fly
Itália | documental| 2019 | 15’
«A história de Emeer - B-boy Zulu Rema – um adolescente tunisino, a quem foram amputadas as duas pernas ainda em criança, e da sua paixão pela arte e pela dança que o levou a tornar-se um campeão de break dance na Tunísia e um modelo para todos os jovens do mundo.»
5. AMEL GUELLATY - Black Mamba
Tunísia | ficção| 2017 | 20’
«Para Sarra, uma jovem da classe média de Tunes, tudo parece indicar a concretização dos planos de sua mãe: ela recebe lições de costura e em breve casar-se-á com um bom rapaz. Mas Sarra esconde um plano perigoso com o qual pretende fugir à sua vida actual.»
«Em Junho de 2018, Miguel Duarte e outros nove tripulantes do navio IUVENTA foram constituídos arguidos pelas autoridades italianas por “apoio à emigração ilegal”, crime punível até 20 anos de prisão. Nesta curta documental, ouvimos o depoimento do jovem Miguel Duarte.»
Após a projeção, o público dialogou com o realizador de Mayday, Miguel Gaspar, e com Miguel Duarte. Parabéns aos nossos alunos que participaram ativamente com perguntas interessantes.
“Quando vejo uma pessoa a morrer afogada não lhe pergunto se tem passaporte. Tiro-a da água.” Miguel Duarte
«A história é simples de resumir: há dois anos, Miguel Duarte, agora com 26 anos, voluntariou-se para ajudar num resgate de refugiados em pleno Mediterrâneo; fê-lo através da ONG alemã Jugend Rettet e a bordo da embarcação Iuventa. Hoje, Miguel e mais nove pessoas enfrentam as autoridades italianas, que os acusam de auxiliarem a imigração ilegal. Arriscam uma pena de prisão no máximo de 20 anos e multas avultadas pelo resgate de cerca de 14 mil migrantes naquele navio.»