sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

FERNANDO EDUARDO CARITA - «De quantas mortes se faz alguém ao caminho ?»

Querida Judite,
pensando na tua Dor,
na Dor que vai atravessando a corrente das nossas vidas...

A-braço de um rio de palavras sensíveis!

José Maria Laura


 Fotografia - José Maria Laura
Trás-os-Montes, janeiro de 2024

VI

Nunca me procures

onde te sinalizaram a vida ou a morte,

o corpo ou o espírito,


estarei à tua espera porém

onde fui outrora antes de nascer,

aí onde os cisnes começavam a cantar

a cada vez que eu me ia alternando entre ser e nada;


o amor é enquanto a morte ocupar clandestinamente

um pedaço desdenhado de vida pela própria vida;

o amor é ainda o tempo que dura a morte até ser

surpreendida

com vida no campo do inimigo,

ou será o amor o tempo que dura a vida até ser surpreendida

sem morte no campo do inimigo?


XV

Morrer é saldar,

vencido há muito o prazo, uma última dívida,

também a última prestação da casa de termos sido.


XLVI

Ouve-lo?

O eco persistente do tempo de encontro aos

relógios?


De quantas mortes se faz alguém ao caminho ?


FERNANDO EDUARDO CARITA

LE DIEU DE L'INACHEVÉ - O deus do inacabado, Le Taillis Pré, 2022



 Fotografia - José Maria Laura
Trás-os-Montes, janeiro de 2024





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