sexta-feira, 29 de março de 2024

sexta-feira, 22 de março de 2024

Dia da Água na Ferreira e na corrente poética dos Dias

Parabéns por esta iniciativa refrescante!



A Água

Ninguém ouve a canção, mas o ribeiro canta!
Canta porque um alegre deus o acompanha!
Quantos mais tombos, mais a voz levanta!
Canta porque vem limpo da montanha!
Espelho do céu, é quanto mais partido
Que mais imagens tem da grande altura.
E quebra-se a cantar, enternecido
De regar a paisagem de frescura.

Água impoluta da nascente,
És a pura poesia
Que se dá presente
Às arestas da humana penedia…

Miguel Torga


Chuva

Chove uma grossa chuva inesperada,
Que a tarde não pediu mas agradece.
Chove na rua, já de si molhada
Duma vida que é chuva e não parece.

Chove, grossa e constante,
Uma paz que há de ser
Uma gota invisível e distante
Na janela, a escorrer...

Miguel Torga



La vague

Pour se faufiler
Dans l’étroit canal
Oui menait au port avant les bassins,

Elles se pressaient, tes vagues,
Lors de la marée,
Elles se bousculaient.

Elles avaient besoin
Que l’interminable
Soit fini pour elles.

Eugène Guillevic


Au bord de l'eau

S'asseoir tous deux au bord d'un flot qui passe,
Le voir passer;
Tous deux, s'il glisse un nuage en l'espace,
Le voir glisser;
À l'horizon, s'il fume un toit de chaume,
Le voir fumer;
Aux alentours, si quelque fleur embaume,
S'en embaumer;
Si quelque fruit, où les abeilles goûtent,
Tente, y goûter;
Si quelque oiseau, dans les bois qui l'écoutent,
Chante, écouter ...
Entendre au pied du saule où l'eau murmure
L'eau murmurer;
Ne pas sentir, tant que ce rêve dure,
Le temps durer;
Mais n'apportant de passion profonde
Qu'à s'adorer;
Sans nul souci des querelles du monde,
Les ignorer;
Et seuls, heureux devant tout ce qui lasse,
Sans se lasser,
Sentir l'amour, devant tout ce qui passe,
Ne point passer !

René-François Sully Prudhomme.



Il pleure dans mon cœur

Il pleure dans mon cœur
Comme il pleut sur la ville;
Quelle est cette langueur
Qui pénètre mon cœur ?

Ô bruit doux de la pluie
Par terre et sur les toits !
Pour un cœur qui s'ennuie,
Ô le chant de la pluie !

Il pleure sans raison
Dans ce cœur qui s'écœure.
Quoi ! nulle trahison ?...
Ce deuil est sans raison.

C'est bien la pire peine
De ne savoir pourquoi
Sans amour et sans haine
Mon cœur a tant de peine !

Paul Verlaine

 


Le pont Mirabeau

Sous le pont Mirabeau coule la Seine
Et nos amours
Faut-il qu'il m'en souvienne
La joie venait toujours après la peine.
Vienne la nuit sonne l'heure
Les jours s'en vont je demeure
Les mains dans les mains restons face à face
Tandis que sous
Le pont de nos bras passe
Des éternels regards l'onde si lasse
Vienne la nuit sonne l'heure
Les jours s'en vont je demeure
L'amour s'en va comme cette eau courante
L'amour s'en va
Comme la vie est lente
Et comme l'Espérance est violente
Vienne la nuit sonne l'heure
Les jours s'en vont je demeure
Passent les jours et passent les semaines
Ni temps passé
Ni les amours reviennent
Sous le pont Mirabeau coule la Seine

Guillaume Apollinaire 

 

Fotografias - Maria Laura Matos


Chove chuva

Chove chove
chuva chove.
Chove chuva
chove cá.
Já choveu
uma chuvada
numa chávena de chá.

Numa chávena de chá
numa chávena chinesa
chove chuva
chuva chove
no chá da dona Teresa
Chove chuva
chuva chove.

Chove chuva
chove cá.
Já estou farto de chuva.
Quero tomar um chá.

António Mota



SÍLVIA PÉREZ CRUZ - Mañana

 




MAÑANA
Ana María Moix (Barcelona, 1947-2014)

Cuando yo muera, amado mío
no cantes para mí canciones tristes
olvida falsedades del pasado
recuerda que fueron solo sueños que tuviste
¡Qué falsa invulnerabilidad la felicidad!
¿Dónde estará ahora?, ¿dónde estará mañana?
Cuando yo muera, amado mío
no me mandes flores a casa
no pongas rosas sobre el mármol de mi fosa, no.
no escribas cartas sentimentales que serían solo para ti
Cuando yo muera mañana, mañana, mañana
habrá cesado el miedo de pensar que ya siempre estaré sola
que ya siempre estaré sola
mañana.



« Canción de Silvia Pérez Cruz, música, y Ana María Moix, letra,
en el documental Ana Maria Moix, passió per la paraula (2016)
Adaptación del largo poema en prosa de Ana María Moix
«Cuando yo muera amado mío no cantes para mí canciones tristes»
de su libro No time for flowers y otras historias (1971)»


quinta-feira, 21 de março de 2024

Na Ferreira ... Transparências faciais

 

Da transparência

Senhor libertai-nos do jogo perigoso da transparência

No fundo do mar da nossa alma não há corais nem búzios

Mas sufocado sonho

E não sabemos bem que coisa são os sonhos

Condutores silenciosos canto surdo

Que um dia subitamente emergem

No grande pátio liso dos desastres

Sophia de Mello Breyner Andresen



Nova exposição de trabalhos graças ao dinamismo do professor Osvaldo Castanheira e da professora Carmelita Pires! 













Fotografias - Maria Laura Matos


Parabéns ao 9ºC e aos professores envolvidos!



quarta-feira, 20 de março de 2024

MIGUEL TORGA - Agora

 

Fotografia de José Maria Laura
Algueirão, março de 2024


AGORA

Abre-te, Primavera!

Tenho um poema à espera

Do teu sorriso.

Um poema indeciso

Entre a coragem e a covardia.

Um poema de lírica alegria

Refreada,

A temer ser tardia

E ser antecipada.

Dantes, nascias

Quando eu te anunciava.

Cantava,

E no meu canto acontecias

Como o tempo depois te confirmava.

Cada verso era a flor que prometias

No futuro sonhado…

Agora, a lei é outra: principias,

E só então eu canto confiado.


Miguel Torga 

Diário X

segunda-feira, 18 de março de 2024

HAUSER CELLO - Grândola, vila morena




Captura de ecrã

 




NUNO JÚDICE (1949-2024)




Rotação

É nos teus olhos.

É nos teus olhos que o mundo inteiro cabe,

mesmo quando as suas voltas me levam para longe de ti;

e se outras voltas me fazem ver nos teus os meus olhos,

não é porque o mundo parou,

mas porque esse breve olhar nos fez imaginar

que só nós é que o fazemos andar.

Pedro lembrando Inês, 2002



Receita para fazer o azul.

Se quiseres fazer azul,

pega num pedaço de céu e mete-o numa panela grande,

que possas levar ao lume do horizonte;

depois mexe o azul com um resto de vermelho

da madrugada, até que ele se desfaça;

despeja tudo num bacio bem limpo,

para que nada reste das impurezas da tarde.

Por fim, peneira um resto de ouro da areia

do meio-dia, até que a cor pegue ao fundo de metal.

Se quiseres, para que as cores se não desprendam

com o tempo, deita no líquido um caroço de pêssego queimado.

Vê-lo-ás desfazer-se, sem deixar sinais de que alguma vez

ali o puseste; e nem o negro da cinza deixará um resto de ocre

na superfície dourada. Podes, então, levantar a cor

até à altura dos olhos, e compará-la com o azul autêntico.

Ambas as cores te parecerão semelhantes, sem que

possas distinguir entre uma e outra.

Assim o fiz - eu, Abraão ben Judá Ibn Haim,

iluminador de Loulé - e deixei a receita a quem quiser,

algum dia, imitar o céu.


 Meditação sobre ruínas , 1994


A Vida

A vida, as suas perdas e os seus ganhos, a sua

mais que perfeita imprecisão, os dias que contam

quando não se espera, o atraso na preocupação

dos teus olhos, e as nuvens que caíram

mais depressa, nessa tarde, o círculo das relações

a abrir-se para dentro e para fora

dos sentidos que nada têm a ver com círculos,

quadrados, rectângulos, nas linhas

rectas e paralelas que se cruzam com as

linhas da mão;


a vida que traz consigo as emoções e os acasos,

a luz inexorável das profecias que nunca se realizaram

e dos encontros que sempre se soube que

se iriam dar, mesmo que nunca se soubesse com

quem e onde, nem quando; essa vida que leva consigo

o rosto sonhado numa hesitação de madrugada,

sob a luz indecisa que apenas mostra

as paredes nuas, de manchas húmidas

no gesso da memória;


a vida feita dos seus

corpos obscuros e das suas palavras

próximas.

Teoria Geral do Sentimento, 1999


Para escrever o poema

O poeta quer escrever sobre um pássaro:

e o pássaro foge-lhe do verso.

O poeta quer escrever sobre a maçã:

e a maçã cai-lhe do ramo onde a pousou.

O poeta quer escrever sobre uma flor:

e a flor murcha no jarro da estrofe.

Então, o poeta faz uma gaiola de palavras

para o pássaro não fugir.

Então, o poeta chama pela serpente

para que ela convença Eva a morder a maçã.

Então, o poeta põe água na estrofe

para que a flor não murche.

Mas um pássaro não canta

quando o fecham na gaiola.

A serpente não sai da terra

porque Eva tem medo de serpentes.

E a água que devia manter viva a flor

escorre por entre os versos.

E quando o poeta pousou a caneta,

o pássaro começou a voar,

Eva correu por entre as macieiras

e todas as flores nasceram da terra.

O poeta voltou a pegar na caneta,

escreveu o que tinha visto,

e o poema ficou feito.


A matéria do poema, 2008


Jogo

Eu, sabendo que te amo,

e como as coisas do amor são difíceis,

preparo em silêncio a mesa

do jogo, estendo as peças

sobre o tabuleiro, disponho os lugares

necessários para que tudo

comece: as cadeiras

uma em frente da outra, embora saiba

que as mãos não se podem tocar,

e que para além das dificuldades,

hesitações, recuos

ou avanços possíveis, só os olhos

transportam, talvez, uma hipótese

de entendimento. É então que chegas,

e como se um vento do norte

entrasse por uma janela aberta,

o jogo inteiro voa pelos ares,

o frio enche-te os olhos de lágrimas,

e empurras-me para dentro, onde

o fogo consome o que resta

do nosso quebra-cabeças.

A Fonte da Vida, 1997



JEAN DIEUZAIDE - La petite fille au lapin


1954, na Nazaré
pelo fotógrafo francês -  Jean Dieuzaide (1921 - 2003)


 

terça-feira, 12 de março de 2024

RFI - Villers-Cotterêts, berço da língua francesa





Villers-Cotterêts, berço da língua francesa

«Assinala-se este mês de Março o dia da Francofonia, com o objectivo de promover a língua francesa em todo o mundo. Desde o final de Outubro do ano passado que o antigo castelo de Francisco I°, em Villers-Cotterêts, no nordeste de França, acolhe a Cité Internationale de la Langue Française.»










sábado, 2 de março de 2024

PLA - Português Língua de Acolhimento na Ferreira





«Antecipando o dia de carnaval, nas últimas aulas anteriores à semana da interrupção letiva, os alunos da turma de Português Língua de Acolhimento (PLA), da Escola Secundária Ferreira Dias,  tiveram curiosidade em fazer uma pesquisa sobre as tradições portuguesas ligadas à quadra e criaram dois acrósticos com a respetiva palavra. 

Atentos ao calendário, os alunos chamaram a atenção para a celebração do "Dia dos Namorados", no dia 14 de fevereiro, e quiseram demonstrar a sua afeição ao país que os acolheu, numa carta de amor dirigida a Portugal e aos portugueses.

Orientados pelas professoras, os alunos empenharam-se em mostrar os aspetos da paisagem do país e da cultura  portuguesa que mais os fascinam.

Parabéns aos alunos por todo o esforço de integração que têm vindo a demonstrar. 

Unimos no nosso abraço a participação da Biblioteca da Escola, já anteriormente oferecida através do desafio para um convívio de partilha de tradições de natal dos diversos países de origem dos alunos, realizado em dezembro, que está ainda por divulgar.»

Judite Morais