Em 2018, com a cumplicidade de um amigo fotógrafo, a professora Judite Morais calcorreou os recantos de Agualva-Cacém em busca de Arte de Rua... (Literalmente!)
Sempre inspirada, ilustrou as fotografias recolhidas, desfiando um rosário de obras, feitos e glórias do passado!
Partilhamos aqui o seu texto, sempre gracioso! Apenas demos forma a este belo passeio...
Querida Judite, gratos pelo empenho poético e pelas descobertas com que presenteaste as Gentes de Agualva-Cacém!
José Maria Laura
Encontro com os Artistas da cidade de Agualva-Cacém
Nesta cidade de Agualva Cacém, onde agora eu circulo com o à-vontade de um turista, vêm ao meu encontro, com seus livros de histórias e poemas, memoráveis crónicas, obras de pintura, poetas e escritores, intelectuais e artistas que marcaram a cultura nacional e que aqui fazem figura, dando graça a ruas e praças!
Nesta cidade, detentora de um património cultural já muito antigo, passo e deambulo, em jeito de repórter; ponho-me à conversa com Alexandre Herculano
e, logo a seguir, tiro bilhete para o nosso Garrett, evocando Frei Luís de Sousa e o seu falso romeiro, regressado das trevas dos aventureiros portugueses desaparecidos em combate!
Nesta cidade, que nos convida à descoberta de ilustres figuras, encontramo-nos, até, com nomes célebres de grandes aviadores! Sento-me na praceta Almirante Gago Coutinho e vem-me à memória a primeira travessia aérea do Atlântico Sul, cruzando o céu sobre o mar azul!
Prosseguindo a minha peregrinação, dou de caras, vejam bem, com o cronista Álvaro Velho, herói da expedição à Índia, honrando uma rua do nosso Cacém!
Enveredo, então, pela rua de Alves Redol, escritor realista e também jornalista!
Dou-me conta de que ainda só estamos na letra A e, para verem que não me desleixo, vou nomear, primeiro, António Aleixo
e o romancista Aquilino Ribeiro!
Entramos na letra B, com o grande Bocage
e o poeta Bandarra,
e também trago a terreno o dramaturgo Bernardo Santareno!
Sento-me num banco com o Amor de Perdição, e leio, com emoção, Camilo Castelo Branco!
Vamos continuar em diante, na companhia de Cesário Verde, o poeta repórter da cidade de Lisboa, que me inspira neste passeio pelas ruas do Cacém. Ele não tinha, como eu, uma câmara de filmar para registar os instantes! Tinha os sentidos todos apurados: visão, audição, olfato, gosto, tato, que lhe permitiram captar tudo na perfeição!
Estamos na praceta das Descobertas
e invocamos, agora, os grandes navegadores, princesas, cavaleiros, reis e trovadores, envolvendo-nos na barafunda de nomes como Diogo Cão,
D. Dinis,
D. Afonso IV,
D. Nuno Álvares Pereira,
D. Pedro I,
Inês de Castro
e D. Maria II!
E não ficamos por aqui, pois há mais nomes do passado que honram a História deste nosso povoado!
Por isso, vamos em frente, veraneando com Fernão Lopes,
Fernão Mendes Pinto, por caminhos de Lisboa e do Oriente!
Nesta cidade literata, intelectual e diletante, divagamos com Fernando Pessoa, somos saudosistas e futuristas, intersecionando o passado com o presente!
Levados pelo engano de satisfazer o gosto e o olfato com as delícias de um bom prato, chegamos à rua de Eça de Queirós, e imaginamo-nos a correr com Carlos e Ega para apanhar o americano!
Ah!, mas ainda falta mencionar nomes como o do escultor Machado de Castro,
da poetisa Florbela Espanca
e do escritor Ferreira de Castro
e, já agora, seguimos a ideia de entrar na Corte na Aldeia, com o escritor barroco Francisco Rodrigo Lobo!
Já estamos em despique com o infante D. Henrique, de portas abertas para novas descobertas!
Quem diria que temos tanta arte na nossa freguesia, pois, pelo caminho, ficam-nos nomes como o de Oliveira Martins,
Sá de Miranda
e Garcia de Resende
e ainda fazemos rimas com sonetos e canções de Luís Vaz de Camões,
Miguel Torga, João de Deus,
José Régio,
e José de Almada Negreiros!
Meu Deus, e ainda falta desenhar o perfil de Guerra Junqueiro,
Marquês de Pombal,
Pedro Álvares Cabral,
o matemático Pedro Nunes
e Pero Vaz de Caminha, com a sua Carta de Achamento do Brasil!
Finalmente, e num crescendo de diversão, vamos terminar com Gil Vicente,
porque o modo mais eficaz de se castigarem vícios e maus costumes é com humor e sem agressão!
Judite Morais